quinta-feira, 31 de maio de 2012

Rotina.

Olho para o espelho procurando um rosto bonito. Deparo-me com uma silhueta pálida e sem emoção.
Sacudindo brevemente a cabeça, tentando tirar aquela imagem assustadora da mente, retorno aos afazeres da manhã. Tudo automático, como se eu nem precisasse pensar em qual era o próximo passo a ser dado.
Fazendo um café, me debruço sobre a pia, olhando para fora da janela. Momento reflexão. Sem sucesso, restou-me um suspiro.
Novamente no quarto, fechei os olhos com força, tentando me preparar para mais uma vez, me deparar com o meu maior inimigo: o espelho. Mais uma vez, um suspiro.
Tentando permanecer o menor tempo possível em frente a este, começa o ritual de disfarce da face sombria que ali é refletida. Carregando na maquiagem escura dos olhos, escondo minha palidez, disfarço meus olhos inchados e arroxeados de uma noite mal dormida e de muitas lágrimas. Ensaio sorrisos, tentando parecer o mais natural possível, a fim de tentar reproduzir estes durante o dia.
Com sensação de tarefa cumprida, trato de vestir algo que faça eu me sentir gente. Mas nunca me satisfaço... Bom, que seja.

Fechando com força a porta de casa, tomo meu rumo.
Durante o resto da manhã, os sorrisos ensaiados são reproduzidos. Repentinamente me pego pensando no espelho. Dou-me conta do vazio que me percorre cada veia, a sensação de morte que me faz questionar o que seria a vida... Me sinto num cotidiano cuidadosamente ensaiado, das coisas que eu gostaria de estar fazendo com intensidade, mas que não acontece por falta de vontade de tudo.
Sinto como se minhas pernas tivessem vida própria e que não "ouvisse" meus pensamentos.
Sinto como se meu biológico agisse por si só. Que não obedecesse minha mente e minhas emoções.
Minha cabeça quer algo, meu corpo age ao contrário. E assim se forma mais uma confusão interna.

Só penso em sentir minha cama novamente. Meu travesseiro me aconchega de tal forma que parece que ali, nada me atinge, momento de compartilhar minhas lágrimas, minhas angústias e minhas falsas esperanças. Sim, falsas esperanças, porque em muitos momentos, deito minha cabeça com um sorriso forte no rosto e mãos tremendo com a adrenalina que percorre em meu corpo, crendo por apenas um brevíssimo instante, numa saída. Mas é sempre alarme falso.


Mais uma vez, tento acordar desse pensamento, me deparando com a triste realidade, esta muito distante da minha cama e travesseiro. Continuo meus afazeres sem pensar no que estou fazendo, mas no que eu queria fazer. E assim espero o tempo passar, até eu conseguir o momento tão esperado. É ali que passarei o resto das minhas horas disponíveis.

E assim, fecha o ciclo.


Sei que não é o primeiro texto que posto sobre meu início de manhã. Esse é o momento mais conturbado do dia porque simplesmente não tenho vontade de acordar. Queria dormir para sempre. Não precisar abrir os olhos, não precisar ver as pessoas, não precisar ter obrigações! Não precisar respirar... Não precisar me mover, saber que ali há "vida".
Não queria nem ter nascido.


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